Mantra dilmista é corte de direitos, aumento de impostos, de juros e de tarifas públicas
Disse a senhora Rousseff que "eu faço ajuste no meu governo como uma mãe, uma dona de casa faz na casa dela".
Vejamos com que casa – e com que família – a atual presidente está acostumada.
Em
dois meses do novo governo Dilma, o povo foi achacado em R$ 111 bilhões
– mas isso é somente à primeira vista; se incluirmos mais R$ 10 bilhões
já cortados da Saúde (v. HP, 25/02/2015) teremos R$ 121 bilhões; e nem
somamos outros assaltos. Mas isso já é 54% da verba não-obrigatória do
governo – verba para a manutenção dos serviços públicos (custeio) ou
para investimento, quer dizer, ampliação da capacidade desses serviços.
REPULSA
Resumindo uma parte, uma vez que é impossível colocar a totalidade:
- foram cortados R$ 57,5 bilhões em custeio pelo Decreto nº 8.412/2015
– este decreto é válido por quatro meses, mas todos os governistas
consideram que será o regime prevalecente até o fim do ano, se depender
da vontade de Dilma/Levy; implica em um corte anual de R$ 14,5 bilhões
na Educação (31,1% da verba prevista na proposta de lei orçamentária
anual - PLOA 2015 - enviada pelo próprio governo ao Congresso); a Saúde,
além dos R$ 10 bilhões, perdeu mais 6,7% da verba estipulada na PLOA
2015; o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, isto é, o
Bolsa-família, perdeu R$ 3,1 bilhões; o Ministério das Cidades, que
gere o "Minha Casa Minha Vida", só com esse decreto perde R$ 7,3
bilhões, 28% do previsto na PLOA 2015, além das outras perdas. No conjunto, os R$ 57,5 bilhões de cortes são 25% - ou seja, 1/4 – da verba para manutenção dos serviços públicos.
- foram cortados R$ 18 bilhões nos direitos do trabalhador: seguro-desemprego, abono salarial e pensão por morte (Medidas Provisórias 664 e 665);
- foram cortados R$ 7,75 bilhões da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), ocasionando o estúpido aumento extraordinário (v. matéria na página quatro) – além do aumento anual, das bandeiras tarifárias e do escambau;
- foram aumentadas a Cide, IOF, PIS/Cofins sobre importados e IPI de cosméticos – total: R$ 20,6 bilhões;
- foi aumentada a contribuição previdenciária das empresas sobre o faturamento. Total: R$ 5,35 bilhões em 2015 e R$ 12,84 bilhões a partir de 2016;
- corte no Reintegra, programa de estímulo às exportações (Decreto 8.415/2015). Total: R$ 1,8 bilhão.
Com
o país já em recessão, andando para trás devido a quatro anos de
desastre econômico, Dilma e Levy estão, criminosamente, jogando-o no
abismo, estrangulando-o com aumentos de juros seguidos e cortes brutais
nos investimentos – o corte de R$ 30 bilhões, que foi anunciado pela
imprensa, sem que houvesse desmentido, é 58% maior do que todos os
investimentos liberados no Orçamento do ano passado. Ou seja,
pretende-se deixar o país sem nenhum investimento público federal.
E
nem falaremos na moral – em suma, na falta de caráter – que permeia o
governo, da qual o assalto à Petrobrás é apenas o exemplo mais agudo.
Mas, sobre isso, basta lembrar a campanha eleitoral, em que a mentira, a
difamação, a total ausência de senso ético revelaram-se em sua crueza,
que deixa longe os fariseus hipócritas e sepulcros caiados de outras
épocas, logo assim que a eleição terminou.
Daí, o mal estar que agora se transformou em repulsa e percorre todo o país.
É
cínica a afirmação de Dilma de que esse sacrifício terrível é para "dar
condições de a gente retomar um novo ciclo de desenvolvimento
econômico".
O
que ela está fazendo é, precisamente, desviar os recursos do
investimento público para os juros auferidos por alguns privilegiados,
estrangeiros e, alguns, internos.
No
momento em que o país mais precisa de que os juros estejam baixos e que
os investimentos públicos puxem os investimentos privados, a política
de Dilma e Levy é fazer o contrário.
O
resultado – dos quatro anos de Dilma, e, agora, de Dilma/Levy, que é o
assumimento sem mais pudores, peias ou disfarces do que já começara a
ser feito antes – já está evidente. E vai aparecer ainda mais nítido nos
dados sobre investimento, concentração de renda e, por consequência,
crescimento, daqui para a frente.
Só
em janeiro, o número de desempregados nas seis regiões metropolitanas
em que é realizada a Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE aumentou +22,5%
em relação ao mês anterior (a "população desocupada", que era de
1.051.000 em dezembro foi para 1.288.000, ou seja, os desempregados
aumentaram em +237 mil pessoas nessas seis regiões; ver matéria na
página 2).
O
espantoso – ou nem tanto, considerando a política de Dilma – é que
trata-se da pesquisa favorita do Planalto, que obrigou o IBGE a
mantê-la, apesar de estar superada, porque a nova pesquisa do Instituto,
a PNAD Contínua, que é feita em todo o país, resultava em números
maiores de desemprego.
Mesmo
assim, não adiantou. E não resolve o problema dizer que é um resultado
sazonal, como disse o ministro do Trabalho sobre o CAGED (o desemprego
entre os trabalhadores com carteira assinada), pois o desemprego em
janeiro foi muito maior que o habitual, mesmo em termos relativos, isto
é, percentuais.
Em
suma, a ideia de Dilma do que é ser mãe, pelo jeito, é deixar as
pessoas sem comer. Assim, diz ela que faz um "ajuste" - meramente,
arrebentando com o país para passar seus recursos à minúscula camada de
bancos, multinacionais e 60 mil famílias que são parasitas dos juros,
amealhando magnitudes ciclópicas de dinheiro, às custas das outras 65
milhões de famílias brasileiras, que são escalpeladas para que algumas
douradas borboletas circulem acima do navio negreiro.
FEITORA
A
ideia que Dilma faz do que é o povo do Brasil assemelha-se à de alguns
elementos da República Velha ou, o que é a mesma coisa, à vulgaridade da
UDN: uma promiscuidade de brancos pobres, índios e negros, que cheira a
suor, ao invés de rescender a algum produto da Maison Dior. Pode esse
povo ser capaz de alguma coisa? - não é isso o que sempre achou essa
malta, para quem o que é estrangeiro sempre é melhor apenas por não ser
brasileiro?
Com
essa mentalidade de feitora, submissa a uma pequeníssima oligarquia
rentista – é ridícula a imitação que Dilma faz dessa gente que já é uma
imitação da oligarquia financeira dos EUA – dizer que faz "ajuste como
uma mãe" é apenas um coquetel de cinismo com boçalidade.
Pior ainda quando diz que está dando "condições de a gente retomar um novo ciclo de desenvolvimento econômico".
Este
é o quinto ano em que ela é presidente sem que o país conheça nada,
exceto aberrações: a passagem de R$ 1.010.772.000.000 (um trilhão, 10
bilhões e 772 milhões de reais) em juros para os rentistas; a queda tão
violenta da produção industrial que estamos agora no mesmo nível de
2007; o desemprego que agora está se tornando galopante; os salários
contidos para aumentar a margem de lucro dos monopólios multinacionais.
Tudo
isso em nome de um combate à inflação, de uma invenção de classe média,
de uma farsa ampla, geral e irrestrita - que seria uma palhaçada, se
não fossem as consequências trágicas que podem-se perceber no olhar das
crianças nos bairros pobres ou nos viciados em crack e outras drogas,
sem esperança e sem futuro, nas praças, nas escolas ou escondendo-se em
tugúrios sinistros e infectos.
CARLOS LOPES
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