quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Cunha usou igreja para lavar dinheiro da Petrobrás

Aliado do PT no assalto à estatal e no ajuste fiscal quer escapar do castigo tirando onda de oposição 

É difícil encontrar quem não saiba que Cunha é um bandido. Inclusive os que o defendem não ignoraram o fato.

Ele próprio cultiva a imagem de velho chefe mafioso, que manda queimar a loja para vender proteção ao dono. O ostensivo desprezo pela verdade, a religiosidade de fachada e um chumaço de cabelo implantado, grudado à cabeça com gomalina, completam seu perfil de sumo sacerdote da crença no vale tudo para se dar bem.

O modo petista de governar, fazendo das eleições um campeonato de marketing movido a dinheiro roubado, criou o ambiente de cinismo e dissolução para que uma figura desse calibre chegasse à presidência da Câmara.

Em aliança com o PT, Cunha participou ativamente do assalto à Petrobras. E o pixuleco recebido forneceu providencial reforço ao seu poder de aliciamento.

Na denúncia apresentada contra ele ao STF, o procurador-geral da República exige, além da condenação criminal, a “restituição do produto dos crimes no valor de US$ 40 milhões” - 40 milhões de dólares! - e também uma reparação pelos danos causados correspondente ao mesmo valor.

Na presidência da Câmara, Cunha apadrinhou o ajuste fiscal, que Dilma copiou de FHC para elevar os ganhos do setor financeiro às custas do emprego, salário, indústria, comércio e serviços públicos.

Agora que a casa caiu para ambos, ele quer se safar aproveitando a impopularidade da presidente para cavar uns pontinhos no Ibope posando de oposição.

Apesar das evidências em contrário, Cunha acredita que responsabilizando Dilma por seus problemas com a Polícia e a Justiça possa granjear algum apoio para sua causa. É um jogo que diz bem do caráter de quem o pratica.

É verdade que ninguém pode ser condenado antes de apresentar a defesa. Porém é uma verdade geral que não invalida outra mais ajustada ao momento: a Presidência da Câmara não pode ser usada como escudo para embaraçar a ação da Justiça.

Portanto, a remoção de Cunha deste cargo, através de renúncia ou cassação por falta de decoro, torna-se imperiosa para que o STF cumpra o seu rito, sem percalços.

Se as cúpulas do PSDB, Dem, PMDB, PT e outros menos votados quiserem abraçar o caixão sem alça e formalizar a adesão à respeitável “bancada da rola”, tanto pior para eles. Aqui se faz, aqui se paga.

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Cunha embolsou US$ 40 milhões de "pixuleco"

Até a igreja que ele frequenta foi usada para lavar a propina, segundo o procurador-geral 

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apresentou na quinta-feira (20) ao Supremo Tribunal Federal (STF) denúncia contra o presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), por receber US$ 40 milhões (quarenta milhões de dólares) de propina nos contratos da Petrobrás com a Samsung Heavy Industries, da Coreia, para fornecimento de navios-sondas para a estatal. Segundo o procurador, que pediu a condenação do deputado a mais de cento e oitenta e quatro anos de prisão pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, até uma igreja da Assembléia de Deus foi utilizada pelo deputado para lavar dinheiro desviado da Petrobrás. 

Também foram alvos de denúncia a ex-deputada Solange Almeida (PMDB-RJ), aliada de Cunha e atual prefeita de Rio Bonito (RJ), acusada de ter participado, a mando do deputado, de manobras de chantagem contra as empresas para o pagamento das propinas. 

Na denúncia contra Eduardo Cunha a PGR pede que sejam devolvidos US$ 80 milhões [R$ 284,20, ao câmbio atual] – US$ 40 milhões como restituição de valores desviados e mais US$ 40 milhões por reparação de danos. Segundo a Procuradoria, a quantia paga pela Samsung foi depositada no exterior, em contas indicadas pelo lobista Fernando Baiano, apontado como operador do PMDB no esquema de corrupção e preso na Operação Lava Jato. A PGR informa na denúncia que identificou 60 operações de lavagem de dinheiro, entre as quais remessas ao exterior, entrega de dinheiro vivo, simulação de contratos de consultoria, emissão de notas frias e transferências para uma igreja da Assembléia de Deus de Campinas, vinculada a Cunha, a a pretexto de doações religiosas. 

OPERADOR 

Segundo consta na denúncia da Procuradoria-Geral da República, o operador do PMDB, Fernando Soares, orientou Júlio Camargo, que prestava serviços para a empresa Toyo Setal, a efetuar dois depósitos num total de 250 mil reais para a igreja da Assembléia de Deus Madureira, de Campinas. Os dois depósitos na referida igreja foram efetivamente feitos no valor de 125 mil reais em 31 de agosto de 2012 pelas empresas Treviso e Piemonte, pertencentes a Camargo. De acordo com o procurador-geral, "é notória a vinculação de Eduardo Cunha com a igreja mencionada. O diretor da igreja perante a Receita Federal é Samuel Cássio Ferreira, irmão de Abner Ferreira, pastor da Igreja Assembléia de Deus de Madureira, no Rio de Janeiro, freqüentada por Eduardo Cunha. Foi nela, inclusive, que o deputado celebrou a eleição para a presidência da Câmara dos Deputados, conforme divulgado pela imprensa. 

A investigação sobre as atividades criminosas de Cunha começou a partir de depoimento, prestado em acordo de colaboração com a Justiça pelo doleiro Alberto Youssef em outubro de 2014 à Lava Jato. Segundo Youssef, o operador da Samsung Heavy Industries e de uma empresa associada, a Mitsui, Júlio Camargo, pagou propina a Cunha a partir do fechamento de contratos da empresa com a Petrobrás. Foram assinados dois contratos para fornecimentos dos navios-sonda Petrobras 10.000 e Vitória 10.000, com a anuência do então diretor da área internacional da petroleira, Nestor Cerveró. Os dois contratos custaram aos cofres da Petrobrás US$ 1,2 bilhão. 

Segundo Youssef, a propina foi paga por Camargo a Fernando Soares por meio de remessas ao exterior. De acordo com a denúncia do procurador, no período de 2006 a outubro de 2012, a contratação do navio-sonda Petrobras 10.000 gerou o pagamento de propina no valor de US$ 15 milhões. No segundo navio, o Vitória 10.000, a propina paga foi de US$ 25 milhões. Youssef contou que em determinado momento os pagamentos da Samsung a Camargo cessaram, o que impediu o operador de continuar pagando Baiano. Ele também disse que, para pressionar Camargo a retomar os pagamentos, Cunha então apresentou, por meio de outros parlamentares do PMDB, requerimentos na Câmara para pedir investigações do TCU e do Ministério de Minas e Energia sobre Camargo e a empresa Mitsui, parceria da Samsung no negócio dos navios-sondas. Os registros da Câmara indicaram que a deputada Solange Almeida de fato apresentou requerimentos no sentido de se ouvir Camargo e as empresas. O peemedebista teria dito ainda a Camargo que era preciso não só resolver o problema dele, Cunha, como também a parcela que deveria ser entregue a Baiano. 

Preso na Operação Lava Jato, Júlio Camargo também fechou um acordo de colaboração premiada com a Justiça, porém a princípio não confirmou a propina a Eduardo Cunha. A versão mudou por volta de março deste ano, quando, em novos depoimentos, Camargo confirmou a história narrada por Youssef. Um processo tramita no Paraná sobre o mesmo assunto, mas tendo por foco o ex-diretor da área internacional da Petrobrás, Nestor Cerveró. Ao ser ouvido pelo juiz Sergio Moro em audiência naquele processo, Camargo confirmou ter pago a propina a Cunha. 

Segundo Camargo, Cunha disse a ele durante um encontro, em 18 de setembro de 2011, acertado por Baiano no escritório da empresa Leblon Empresarial, na Av. Afrânio de Melo Franco, na Zona Sul do Rio, que "o problema que eu tenho é com o Fernando [Soares] e não com você. Acontece que Fernando não me paga porque diz que você não o paga. Como o Fernando não tem capacidade de me pagar, eu preciso que você me pague", disse Cunha. "Não é nada pessoal contra o senhor", prosseguiu. "[Mas] há um débito com o Fernando no qual eu tenho que receber US$ 5 milhões desse pacote referente às sondas". "Isso está atrapalhando porque estamos em véspera de campanha e eu tenho uma série de compromissos". Depois dessa conversa, Camargo disse que pagou os US$ 5 milhões exigidos por Cunha e voltou a pagar regularmente a propina, por meio de repasses a empresas controladas por Baiano no exterior. 

MEDO 

Essa segunda fase de repasses, segundo Camargo, está relacionada às cobranças de Eduardo Cunha. A investigação da Lava Jato demonstrou que Baiano era o controlador das contas abertas em nome das firmas offshore Three Lions Energy, mantida no banco Leu, em Genebra, da Falcon Equity, na Suíça, e da 3 Lions Heavy Industries em Hong Kong. Em suas alegações finais no processo, Camargo disse que pagou Cunha "sob ameaças". Ele disse também que não tinha revelado esses fatos antes por medo do deputado. 

O procurador denunciou ainda, no mesmo dia, o senador Fernando Collor de Melo (PTB-AL), integrante da base aliada de Dilma, por envolvimento em outro esquema de propina, desta vez na BR Distribuidora. Ele é acusado de receber R$ 26 milhões de propina. Completam a lista dos denunciados pelo procurador, Pedro Paulo Leoni Ramos, notório ex-ministro do governo Collor, e mais três pessoas ligadas ao senador. 
SÉRGIO CRUZ

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Com Dilma o PIB vai pro ralo

Juros de Dilma fazem o setor público torrar 7,9% do PIB até junho

Média dos oito anos de FHC foi menor: 7,0%. É isso que precisa acabar para país voltar a crescer 

A oposição tucana e seus penduricalhos, que convocaram os atos de domingo, querem derrubar Dilma, mas não querem acabar com o ajuste fiscal que está arrasando indústria, comércio, salários, empregos, aposentadorias, serviços públicos... E tudo para aumentar os lucros do setor financeiro através de juros cada vez mais elevados.

Querem derrubar Dilma para poderem, eles mesmos, pilotar o ajuste e canalizar para seus respectivos bolsos o cobiçado pixuleco.

Como este é um jogo difícil de ocultar, é natural que as manifestações por eles convocadas tenham estacionado. Ainda levam bastante gente, mas não crescem, não empolgam. E seria necessário crescer para terem efeito prático.

Assim, abre-se uma larga avenida para a construção de um amplo movimento patriótico que ganhe as ruas, associando o “Fora Dilma” ao fim do arrocho fiscal.

Dilma, Temer, Cunha e Renan, cada qual a seu modo, estão sustentando um monstruoso processo de transferência da renda de todos os brasileiros para uns poucos nababos que controlam o setor financeiro.

No primeiro semestre deste ano, o setor público pagou de juros o correspondente a 7,92% do PIB. Percentual maior do que a média de 7,0% praticada nos oito anos do governo FHC.

É isso que precisa acabar para o Brasil voltar a crescer.

E não dá para esperar até 2018.

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Dilma já bate FHC nos gastos/PIB com juros

De janeiro a junho deste ano a despesa do setor público com juros é de 7,92% do PIB. A média de FHC foi de 7,00%. Lula 6,31%


Nos primeiros seis meses, a parcela da produção de riqueza transferida - via juros - do setor público para os bancos, fundos e outros rentistas, superou até a do governo Fernando Henrique.

Na média, Fernando Henrique drenou, ao ano, 7% do Produto Interno Bruto em juros, para o setor financeiro: no primeiro mandato, 6,24% do PIB ao ano; no segundo mandato, 7,76%.

Mas, no primeiro semestre deste ano, a drenagem, através dos juros, de recursos do setor público – vale dizer: dos recursos coletivos de toda a sociedade – para os bancos atingiu 7,92% do PIB.

Já veremos o significado econômico dessa hemorragia. Antes, algumas considerações, digamos, filosóficas.

LEPRA
Entre as coisas que não recomendam um ser humano, porque não são coisas humanas, é difícil saber o que é pior, se a estupidez, a má-fé ou o servilismo. Mas é seguro que o pior são os três juntos – e ao mesmo tempo.

Recentemente, alguns cavalheiros e damas se propuseram à impossível tarefa de defender o governo, recorrendo à explicação (?!) de que os juros no governo Fernando Henrique eram mais altos.

É a mesma coisa que defender a lepra, com a argumentação de que a peste bubônica era pior. Se depender de tais defensores, estaremos, em breve, num leprosário – e não em um país.

Logo, só pode ser estupidez, má-fé ou servilismo. Nos casos mais perdidos, os três.
É óbvio que o governo Fernando Henrique, e seus juros siderais, devastaram o país. Nós sabemos disso até melhor que a maioria dos defensores dos juros altos do governo Dilma, pois lutamos contra o governo tucano, o que não se pode dizer muito de alguns.
No entanto, essa defesa ridícula é, também, uma vigarice.

Entre o primeiro mandato de Dilma e o segundo – o período de seis meses, de janeiro a junho – a transferência em juros do setor público para o setor financeiro aumentou de 5,64% do Produto Interno Bruto (PIB) para 7,92% do PIB (ver tabela ao lado).

Portanto, aumentou +40,43% em seis meses, em relação à média do primeiro mandato.
Comparado ao mesmo período do ano passado, em termos monetários, o aumento foi maior: +87,84% - as transferências aos bancos, sob a forma de juros, aumentaram de R$ 120 bilhões e 246 milhões para R$ 225 bilhões e 870 milhões.

A projeção até o final de dezembro é R$ 450 bilhões. Ou seja, a perspectiva é que o setor público transfira aos bancos, em juros, o equivalente a praticamente toda a receita tributária (impostos + taxas) da União, cuja previsão para 2015 é R$ 453 bilhões (cf. STN, RREO junho 2015, p. 9).

A política do atual governo consiste, precisamente, em aumentar de modo brutal a pilhagem do setor financeiro sobre a produção, o Estado, a sociedade. Aumentar a parcela da renda que é saqueada pelos monopólios financeiros, deixando as indústrias e empresas nacionais, assim como os trabalhadores e o Estado nadando em seco – ou, mais exatamente, em estado de inanição.

É isso que os neoliberais chamam de "ajuste". Sempre querem "ajustar" o país, o Tesouro, a sociedade e o setor produtivo a um domínio sempre maior, a uma apropriação sempre maior do setor financeiro - parasitário, improdutivo, estéril - sobre o valor produzido por todos, sobre o resultado do trabalho da população.

Alguns já notaram que esse "ajuste" é como o de Procusto, o salteador que ajustava as vítimas ao tamanho do seu leito, esticando-as ou cortando seus pés ou pernas – ou, talvez, a cabeça.

Trata-se de aumentar a parcela do setor financeiro no produto – pois, até agora, apesar das macaquices em que o sr. Levy foi amestrado pelo FMI, não há outra forma de gerar valor, renda, senão através da produção, isto é, do trabalho. O "ajuste" resume-se em aumentar a drenagem do valor criado por quem produz, para aqueles que não produzem nada - cabendo a parte do leão aos que estão em Wall Street e outros logradouros semelhantes.

Com certeza, há uma série de racionalizações, auto-ilusões e otarices várias, que não chegam a ser um fenômeno psicológico – estão mais para o fisiológico, no sentido mais grosseiro do termo.

Será que alguém acredita que, se dermos mais dinheiro aos especuladores, eles irão investir e fazer o país crescer, ao invés de especular – aqui ou fora do país?

Onde foi que o corte de todos os investimentos públicos fez o país crescer – e não afundá-lo, como sempre aconteceu nesses casos?

Mas é uma boa política para propineiros – a política neoliberal é feita por ladrões e para ladrões. E, se há algo que aqueles que circundam o Planalto se convenceram, é que o normal em política é roubar.

Um engano. Tanto não é, que uma parte deles – é verdade que ainda pequena – já está na cadeia.

Mas, qual a diferença dessa política para a de Fernando Henrique e seus esvoaçantes seguidores?

Talvez haja alguma na histeria, aqui ou ali, ou na metodologia da propina, sabe-se lá. Fora isso, aplica-se o dito por um luso de Trás-os-Montes, exilado no Brasil durante a ditadura salazarista, quando de volta ao nosso país, após a contrarrevolução de 25 de novembro de 1975: "só as moscas são outras".

Os dilmistas, portanto, não têm razão em usar os juros dos tucanos como se fosse biombo de bordel para os seus juros altos.

De janeiro a junho, a transferência de juros, em termos de Produto Interno Bruto – ou seja, de valor produzido dentro do país – foi até maior que a média dos tucanos.

SANGRIA
Com uma sangria de R$ 450 bilhões em juros por ano para os monopólios financeiros, não há Estado e não há economia viável. Tal rapinagem é incompatível com a existência da própria Nação.

Daí as explosões em todo o país, desde janeiro, que tendem a se fundir numa grande convulsão nacional, em meio à destruição em todas as áreas dos serviços públicos, ao desemprego, ao corte de direitos, ao rebaixamento dos salários, e ao original projeto do governo para todas as questões e para tudo: a privatização, ou seja, mais propina – na Saúde, na Educação, nos Transportes, na Petrobrás.

Se as coisas continuassem desse jeito, proximamente, esperar-se-ia um projeto de dissolução do Exército, com a contratação, em seu lugar, de uma milícia mercenária da Blackwater - aliás, "Xe Services", aliás, "Academi" (deve ser a empresa que mais muda de nome no mundo, mas, aqui, até as moscas são as mesmas).

A revolta contra o estelionato eleitoral de Dilma e a revolta contra o "ajuste" neoliberal são, no fundo, a mesma. Em que consiste o estelionato, senão em ter mentido, exatamente, sobre o "ajuste", sobre a destruição do país, que fez e está fazendo?

Assim, é impossível que a Nação se submeta a essa infâmia. Pode explodir, mas não se submeter.

Um pouco diferente da presidente, cujo ideal de vida, como disse, é "envergar, não quebrar" (v. seu discurso na Marcha das Margaridas, evento em homenagem a uma líder sindical heroica, assassinada por fazer o oposto de Dilma: jamais "envergar").


CARLOS LOPES