quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Dilma já bate FHC nos gastos/PIB com juros

De janeiro a junho deste ano a despesa do setor público com juros é de 7,92% do PIB. A média de FHC foi de 7,00%. Lula 6,31%


Nos primeiros seis meses, a parcela da produção de riqueza transferida - via juros - do setor público para os bancos, fundos e outros rentistas, superou até a do governo Fernando Henrique.

Na média, Fernando Henrique drenou, ao ano, 7% do Produto Interno Bruto em juros, para o setor financeiro: no primeiro mandato, 6,24% do PIB ao ano; no segundo mandato, 7,76%.

Mas, no primeiro semestre deste ano, a drenagem, através dos juros, de recursos do setor público – vale dizer: dos recursos coletivos de toda a sociedade – para os bancos atingiu 7,92% do PIB.

Já veremos o significado econômico dessa hemorragia. Antes, algumas considerações, digamos, filosóficas.

LEPRA
Entre as coisas que não recomendam um ser humano, porque não são coisas humanas, é difícil saber o que é pior, se a estupidez, a má-fé ou o servilismo. Mas é seguro que o pior são os três juntos – e ao mesmo tempo.

Recentemente, alguns cavalheiros e damas se propuseram à impossível tarefa de defender o governo, recorrendo à explicação (?!) de que os juros no governo Fernando Henrique eram mais altos.

É a mesma coisa que defender a lepra, com a argumentação de que a peste bubônica era pior. Se depender de tais defensores, estaremos, em breve, num leprosário – e não em um país.

Logo, só pode ser estupidez, má-fé ou servilismo. Nos casos mais perdidos, os três.
É óbvio que o governo Fernando Henrique, e seus juros siderais, devastaram o país. Nós sabemos disso até melhor que a maioria dos defensores dos juros altos do governo Dilma, pois lutamos contra o governo tucano, o que não se pode dizer muito de alguns.
No entanto, essa defesa ridícula é, também, uma vigarice.

Entre o primeiro mandato de Dilma e o segundo – o período de seis meses, de janeiro a junho – a transferência em juros do setor público para o setor financeiro aumentou de 5,64% do Produto Interno Bruto (PIB) para 7,92% do PIB (ver tabela ao lado).

Portanto, aumentou +40,43% em seis meses, em relação à média do primeiro mandato.
Comparado ao mesmo período do ano passado, em termos monetários, o aumento foi maior: +87,84% - as transferências aos bancos, sob a forma de juros, aumentaram de R$ 120 bilhões e 246 milhões para R$ 225 bilhões e 870 milhões.

A projeção até o final de dezembro é R$ 450 bilhões. Ou seja, a perspectiva é que o setor público transfira aos bancos, em juros, o equivalente a praticamente toda a receita tributária (impostos + taxas) da União, cuja previsão para 2015 é R$ 453 bilhões (cf. STN, RREO junho 2015, p. 9).

A política do atual governo consiste, precisamente, em aumentar de modo brutal a pilhagem do setor financeiro sobre a produção, o Estado, a sociedade. Aumentar a parcela da renda que é saqueada pelos monopólios financeiros, deixando as indústrias e empresas nacionais, assim como os trabalhadores e o Estado nadando em seco – ou, mais exatamente, em estado de inanição.

É isso que os neoliberais chamam de "ajuste". Sempre querem "ajustar" o país, o Tesouro, a sociedade e o setor produtivo a um domínio sempre maior, a uma apropriação sempre maior do setor financeiro - parasitário, improdutivo, estéril - sobre o valor produzido por todos, sobre o resultado do trabalho da população.

Alguns já notaram que esse "ajuste" é como o de Procusto, o salteador que ajustava as vítimas ao tamanho do seu leito, esticando-as ou cortando seus pés ou pernas – ou, talvez, a cabeça.

Trata-se de aumentar a parcela do setor financeiro no produto – pois, até agora, apesar das macaquices em que o sr. Levy foi amestrado pelo FMI, não há outra forma de gerar valor, renda, senão através da produção, isto é, do trabalho. O "ajuste" resume-se em aumentar a drenagem do valor criado por quem produz, para aqueles que não produzem nada - cabendo a parte do leão aos que estão em Wall Street e outros logradouros semelhantes.

Com certeza, há uma série de racionalizações, auto-ilusões e otarices várias, que não chegam a ser um fenômeno psicológico – estão mais para o fisiológico, no sentido mais grosseiro do termo.

Será que alguém acredita que, se dermos mais dinheiro aos especuladores, eles irão investir e fazer o país crescer, ao invés de especular – aqui ou fora do país?

Onde foi que o corte de todos os investimentos públicos fez o país crescer – e não afundá-lo, como sempre aconteceu nesses casos?

Mas é uma boa política para propineiros – a política neoliberal é feita por ladrões e para ladrões. E, se há algo que aqueles que circundam o Planalto se convenceram, é que o normal em política é roubar.

Um engano. Tanto não é, que uma parte deles – é verdade que ainda pequena – já está na cadeia.

Mas, qual a diferença dessa política para a de Fernando Henrique e seus esvoaçantes seguidores?

Talvez haja alguma na histeria, aqui ou ali, ou na metodologia da propina, sabe-se lá. Fora isso, aplica-se o dito por um luso de Trás-os-Montes, exilado no Brasil durante a ditadura salazarista, quando de volta ao nosso país, após a contrarrevolução de 25 de novembro de 1975: "só as moscas são outras".

Os dilmistas, portanto, não têm razão em usar os juros dos tucanos como se fosse biombo de bordel para os seus juros altos.

De janeiro a junho, a transferência de juros, em termos de Produto Interno Bruto – ou seja, de valor produzido dentro do país – foi até maior que a média dos tucanos.

SANGRIA
Com uma sangria de R$ 450 bilhões em juros por ano para os monopólios financeiros, não há Estado e não há economia viável. Tal rapinagem é incompatível com a existência da própria Nação.

Daí as explosões em todo o país, desde janeiro, que tendem a se fundir numa grande convulsão nacional, em meio à destruição em todas as áreas dos serviços públicos, ao desemprego, ao corte de direitos, ao rebaixamento dos salários, e ao original projeto do governo para todas as questões e para tudo: a privatização, ou seja, mais propina – na Saúde, na Educação, nos Transportes, na Petrobrás.

Se as coisas continuassem desse jeito, proximamente, esperar-se-ia um projeto de dissolução do Exército, com a contratação, em seu lugar, de uma milícia mercenária da Blackwater - aliás, "Xe Services", aliás, "Academi" (deve ser a empresa que mais muda de nome no mundo, mas, aqui, até as moscas são as mesmas).

A revolta contra o estelionato eleitoral de Dilma e a revolta contra o "ajuste" neoliberal são, no fundo, a mesma. Em que consiste o estelionato, senão em ter mentido, exatamente, sobre o "ajuste", sobre a destruição do país, que fez e está fazendo?

Assim, é impossível que a Nação se submeta a essa infâmia. Pode explodir, mas não se submeter.

Um pouco diferente da presidente, cujo ideal de vida, como disse, é "envergar, não quebrar" (v. seu discurso na Marcha das Margaridas, evento em homenagem a uma líder sindical heroica, assassinada por fazer o oposto de Dilma: jamais "envergar").


CARLOS LOPES

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