Executivo da Setal comprovou denúncia com 10 contratos fictícios como amostra
O
depoimento do executivo da Toyo Setal, Augusto Ribeiro de Mendonça
Neto, à equipe especial de agentes da Operação Lava Jato, da Polícia
Federal, revela que o esquema montado pelo ex-diretor de Serviços da
Petrobrás, Renato Duque, para roubar a estatal tinha vários tentáculos e
se utilizava de uma quantidade impressionante de métodos de assalto. A
última informação dada por ele à PF foi de que Duque usava até empresas
fantasmas para o pagamento das propinas.
Segundo
Mendonça, cinco empresas eram usadas para pagar propina a emissários de
Renato Duque. Segundo o executivo, que assinou acordo de delação
premiada, essas empresas trabalham com suposto aluguel de máquinas de
terraplanagem e emitiram notas fiscais sem a prestação de serviços "para
gerar a saída de recursos do consórcio", o que permitiu um caixa dois
na Setec Tecnologia, um braço da Toyo Setal. Duque era o operador do PT
dentro da Petrobrás.
O
dinheiro computado como pagamento dessas empresas fantasmas, diz o
empresário, foi usado para pagar propina em troca de negócios na
estatal. Segundo Mendonça Neto, só em dois contratos, ele repassou R$ 66
milhões simulando a contratação de máquinas. "Os contratos simulados
eram de aluguéis de equipamentos e terraplanagem para obras da Repar
[refinaria da Petrobrás no Paraná]. Essas empresas eram pagas na sua
grande maioria por transferências bancárias e as empresas
disponibilizavam reais em espécie ou remetiam os valores ao exterior",
disse Mendonça, citando as empresas Legend, Soterra, Power, SM
Terraplanagem e Rockstar.
O
executivo da Toyo comprovou as informações dadas à PF entregando à
Justiça Federal 10 cópias de contratos fictícios utilizados para
mascarar o pagamento de propina a Renato Duque e Paulo Roberto Costa
(ex-diretor de Abastecimento). Somados, os valores desses contratos
ultrapassam R$ 23 milhões. À Justiça, Mendonça e Júlio Camargo, os dois
da Toyo Setal, já confessaram terem pago subornos de R$ 60 milhões a
Duque e ao PT. O dinheiro era entregue de várias formas: em espécie, no
exterior, nas empresas fantasmas e em contribuições oficiais eleitorais,
etc. Só o auxiliar de Duque, Pedro Barsuco, já se comprometeu a
devolver US$ 100 milhões de propinas.
Na
investigação da Polícia Federal foram identificadas contas de duas
dessas empresas fantasmas pertencentes a Mendonça Neto. A quebra do
sigilo bancário, com autorização judicial, da empresa Tipuana
Participações, indicou um total de R$ 31 milhões depositados na conta da
Legend e outros R$ 35 milhões na conta da Soterra entre os anos de 2009
e 2010.
Júlio
Camargo deu informações detalhadas sobre os outros esquemas de
pagamento de propinas a Duque no exterior. Segundo Camargo, uma conta no
banco Cramer, na Suíça, foi usada para pagamentos de propinas a Duque e
a Paulo Roberto Costa. "O pagamento foi em nome da offshore Drenos, com
conta no mesmo banco, em Lugano", explicou Camargo. "O beneficiário dos
pagamentos na conta Drenos é o próprio Renato Duque", disse o
executivo. Em seu depoimento, o diretor da Toyo explicou que entre 2011 e
2012 transferiu dinheiro do banco Cramer para contas indicadas pelo
doleiro Alberto Youssef para pagar propina em espécie para Duque, Costa e
Barusco.
Mas,
não para por aí a bandalheira montada pelos canalhas dentro da
Petrobrás para desviar recursos públicos. Diretores corruptos ligados
aos esquemas financeiros do PT, PMDB e PP assaltaram os cofres da maior
empresa brasileira.
Em
depoimento prestado ao juiz federal Sergio Moro na segunda-feira (2) e
divulgado no dia seguinte, o empresário Augusto Ribeiro de Mendonça Neto
disse também que Renato Duque requisitava que parte da propina sobre
contratos da estatal fosse paga em "contribuições oficiais ao PT". "Uma
época, o diretor Duque pediu para que fizesse contribuições oficiais ao
PT e eu as fiz", disse. "Era decorrente da comissão que eu havia
combinado com ele", acrescentou. Mendonça Neto admitiu ter pago propina
também a outro ex-diretor, Paulo Roberto Costa. "Eles me pediram, no
caso do Paulo Roberto, 1%, e no caso do Renato Duque, 2%. Sobre o valor
do contrato", afirmou.
Júlio
de Almeida Camargo, também prestou depoimento a Moro na segunda. Ele
confirmou ter repassado R$ 12 milhões a Duque e a Pedro Barusco,
ex-gerente de Engenharia. Camargo disse que essa era "a regra do jogo". O
empresário admitiu ter intermediado contratos em duas obras da estatal,
o Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro), em Itaboraí (RJ), e
a Repar (Refinaria Presidente Getúlio Vargas), em Araucária (PR). Na
obra da Repar, representou o consórcio CCPR, da Camargo Corrêa e da
Promon. Os dois contratos do consórcio, datados de 7 de julho de 2008,
somam R$ 2,7 bilhões, de acordo com documentos da estatal. Camargo diz
ter pago R$ 12 milhões em propina, ou 0,4% do total.
SÉRGIO CRUZ
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